Cor, Alegria e Amor

Que a sua vida tenha cor, alegria e amor.

Entre, "sinta-se" e descubra quanta cor há em você!

domingo, 29 de junho de 2014

Memórias

O tempo desfaz e refaz histórias. Reconstitui e reconstrói. Mas, é este mesmo tempo que, então, lateja constante a dor da lembrança desacreditada e a história destituída. Não há fórmulas mágicas para acelerar ou desacelerar o relógio. Ele toca os segundos, constantes, e não programa nenhum despertador. Desperta a dor.
Se então pudesse escolher um poder, pediria o de apagar memórias. Assim, poderia rasgar todas as cartas e bilhetes e, junto delas, toda lembrança inútil de beijos e abraços. Mesmo que em vão, ordenaria aos rádios e programas de tv que não tocassem mais as nossas cações e lançaria pela janela nossas trilhas sonoras, que compuseram alguns dos nossos caminhos.
Apagaria lugares, cheiros, toques, sensações e esta história.
Velaria por uma única noite, nossa imagem estática, feito foto, nos tantos abraços apertados e no silêncio mudo das milhões de palavras que nasciam no meu peito quando encontrava o teu. Viveria o luto deste enredo só meu, para me livrar do peso constante das tuas tantas mentiras.
Só que o tempo, nada generoso comigo, me concedeu o poder da saudade. Me deixando apenas com o barulho do relógio me contando que amanhã, ainda, é pouco tempo para que eu esqueça sua voz e viva a minha vez.
Mas o tempo ainda segue feito o mundo e a vida, em círculo. Hoje, eu, meio dia. Amanhã, eu, meia noite.
E adormecendo vão as memórias.


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Conto de Aurora

Aurora despertou já era tarde. A Lua, que já apontava no céu misterioso de inverno, desvendava as estrelas que brilharam, um dia, naquele olhar. As verdades e mentiras moram no mesmo lugar. E algumas estrelas são só cadências.
Aurora tinha as cores da vida numa caixinha mágica. Vivia a espera de alguém com quem pudesse pintar seu arco íris. Construía castelos. Se vestia de sonhos. Se despia de medos. Era a valentia de toda covardia. Era a expressão da alegria, num sorriso largo e sem nenhuma vergonha. Aurora era a manhã dos dias depois de tempestades. Tinha jeito acalentador de reerguer pontes devastadas. E ela acreditava em tudo isso.
Sem hora, ela tomava a vida em conta gotas, sentindo a dor e o prazer das flores, com sabedoria de espinhos. Não aprendeu a virar mesas. Aprendeu a se virar.
Sempre deu importância grandiosa nos gestos, nas poucas palavras. Acreditava nas verdades, mesmo encobertas em céus nublados. Nunca duvidou da existência soberana do Sol. Ela guardava papéis e rabiscos. Montava quebra cabeças e forjava peças que encaixavam mãos e apertavam abraços. Tirava os pés do chão e forçava asas. Mergulhava no mais profundo oceano para desvendar pérolas. Entre ostras,  quase se afogou com palavras de amor. As pérolas eram só grãos de areia.
Aurora, de todas as manhãs, anoiteceu ao despertar. E hoje, em passos lentos, utiliza dos vôos e das quedas, para reencontrar suas asas. E mergulha raso, até entender a verdade das pérolas.
Aurora despertou.

Débora Andrade