Aurora tinha as cores da vida numa caixinha mágica. Vivia a espera de alguém com quem pudesse pintar seu arco íris. Construía castelos. Se vestia de sonhos. Se despia de medos. Era a valentia de toda covardia. Era a expressão da alegria, num sorriso largo e sem nenhuma vergonha. Aurora era a manhã dos dias depois de tempestades. Tinha jeito acalentador de reerguer pontes devastadas. E ela acreditava em tudo isso.
Sem hora, ela tomava a vida em conta gotas, sentindo a dor e o prazer das flores, com sabedoria de espinhos. Não aprendeu a virar mesas. Aprendeu a se virar.
Sempre deu importância grandiosa nos gestos, nas poucas palavras. Acreditava nas verdades, mesmo encobertas em céus nublados. Nunca duvidou da existência soberana do Sol. Ela guardava papéis e rabiscos. Montava quebra cabeças e forjava peças que encaixavam mãos e apertavam abraços. Tirava os pés do chão e forçava asas. Mergulhava no mais profundo oceano para desvendar pérolas. Entre ostras, quase se afogou com palavras de amor. As pérolas eram só grãos de areia.
Aurora, de todas as manhãs, anoiteceu ao despertar. E hoje, em passos lentos, utiliza dos vôos e das quedas, para reencontrar suas asas. E mergulha raso, até entender a verdade das pérolas.
Aurora despertou.
Débora Andrade
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