Eu ainda sentia o perfume das flores, misturadas ao do seu abraço. Ainda salivava aquele gosto nosso. Ainda esperava o amanhã do "reencontro forjado pelo destino", do "feitos um para o outro".
Você ainda sinalizava à direita no caminho que daria à "nossa vida", quando subitamente, virou a esquerda, me deixando sem saber se eu deveria ir ou ficar. Se era um atalho ou, se realmente, me disfarçava por outros caminhos.
Desastrosamente, iniciou-se um vendaval. E um redemoinho engolia, violento, coisas nossas. Não enxergava mais as esquinas e me perdia nas margens de mim. Algo faltava no peito e sobrava nas entranhas uma dor, quase física, das lembranças destruídas. Palavras interrompidas. Toda minha verdade, tornada forçosamente, mentira.
As horas se arrastaram por bons e cruéis dias. Tudo era nada e eu, ali, entregue à missão de te fazer sorrir. Aguardando ansiosa pela completude que você desejava.
Ao te dar asas, me esqueci que meu dom sempre foi voar.
Refeito os dias, passado o vendaval... me desfiz dos cacos e das sobras. Nunca fui de me contentar com faltas. Nunca fui de colecionar clichês melodramáticos.
O Sol me brilha todas as manhãs e me convida a viver no alto. Bem perto dos pássaros.
Talvez, de lá, eu até consiga te ver. Mas, naquele dia que você virou à esquerda, eu me vi outra vez. Talvez, eu tenha me encontrado enquanto você se perdia.
Débora Andrade
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