Cor, Alegria e Amor

Que a sua vida tenha cor, alegria e amor.

Entre, "sinta-se" e descubra quanta cor há em você!

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Tão Perto, Tão Longe

Nunca estivemos tão longe. Dentro de um quadrado, ilusoriamente organizado, escondendo as gavetas entulhadas de nós, sem explicações.

Distante, livros que nao contam nossa história, porque morreu antes dos olhos se fecharem. Um livro que nem se abriu.

A hora, que antes voava entre os braços, hoje, carrega o peso de uma estranheza mútua. E os nós, que antes se despiam de segredos e traduziam olhares e gestos, ali, no espaço em comum, são incomuns como se nunca tivessem passado um pelo mão do outro. Como se, antes, não tivessem vivido num mesmo sonho ou em um mesmo coração.
Éramos nós, mas éramos outros. Disfarçando na estranheza a intimidade que, um dia,  revelou corpo e alma. Em fuga dos toques, das palavras e do consumo de dois. Como se nunca tivessem chegado a ser um.
E na hora lenta,  passa como quem não tivesse passado. Nada mais parece ter importância. Porque parece que não houve nada de mais. Não houve nada.
Nunca estivemos tão longe.

Débora Andrade


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Escrevendo

Trata-se do lírico. Um "eu" estúpido que acredita entender tudo e entende tudo que acredita. Coloca cores nos dias cinza e flores em jardins devastados, secos, quase sem vidas. Revive cores de flores, menos dores e mais amores.
Trata-se de um olhar que poetisa os dias de chuva e molha os dias secos com o suor da dança em descompasso.
Talvez, um ser que cala e nunca consente. E sente, cada fiapo do seu esfarrapado coração, curando com seu amor próprio os tombos caídos e as feridas abertas.
Teimosia. Às vezes, cai... Mas, sempre levanta.
Trata-se de rimas que impregnam na alma, com cheiro de alegria e gosto de coragem. Sempre entre pontos e vírgulas, na constância de uma montanha russa. Com as certezas renovadas, desfeitas, desfocadas, reeleitas e refeitas. Mergulhando sempre no mais profundo de si mesmo.
Trata-se de quem escreve a própria vida. Só tem lápis e papel nas mãos. O resto? Escreve.

Débora Andrade


domingo, 7 de setembro de 2014

Aconselhando Amigos

- Mas, e agora? O que eu faço? Ela terminou comigo. - Agora não dá mais. Ou você acha que ainda sobrevive? - Se ele fosse mais fácil. Se me ouvisse mais. Será que ele não gosta de mim? - Então, porque não pode ser como era?  - Porque tem que ser assim?
Se me pergunta, eu respondo. Mesmo que a resposta venha em forma de pergunta. Mas, se me convidam, eu me meto. É boa a sensação do saber. Mesmo você tendo certeza que não sabe porcaria nenhuma. Eu ainda me pergunto o porquê das pessoas insistirem em se aconselhar comigo! E isso é desde os tempos de escola. Minhas colegas estavam sempre atrás de conselhos meus, quando eu ainda não tinha nem dado o primeiro beijo e elas já viviam o dilema da escolha por um ou outro.E estava sempre observando tudo ao meu redor. Todos ao meu redor. Eu queria entender o mundo. Me entender. Será por isso?
Minha vida afetiva nunca foi exemplo de sucesso pra ninguém. Cheia de excessos e fracassos. Nunca vivi metade de nada. Pulei abismos, confiei em outras asas, percorri caminhos tortuosos e cedi a alma, o coração. Tudo vivido com intensidade, cheio de verdade e entrega. Me "estabaquei", me feri. Chorei. Chorei outra vez. Escrevi poemas. Sofri. Fiz algumas crônicas para tentar me reescrever. Amei. Muito. Fui feliz. Fui enganada pelas asas e ainda acredito no vôo. E ainda tem maluco para querer um conselho de quem tem coragem para viver assim? Vai entender.
O que você faz, amigo? - Vai lá e, se você acha que vale a pena, persista. Só não fique o tempo de passar o amor. Se ele passa, passa todo o resto. Não sobreviva! Viva! É muito mais emocionante, embora mais perigoso. Tente respeitar o espaço do outro. O jeito do outro. Mas, não se torne outro para viver ali. Nada vale este sacrifício. Se estiver morno, esquente ou, gele de uma vez. Corra léguas de qualquer coisa que não te faça sentir vontade de rir. E não se acostume. Se for preciso, mande flores. Escreva um poema. Mas, nada vai valer mais que um abraço. E se neste abraço você não a sentir... Faça as malas. Talvez não caiba na mala toda saudade do que foram juntos. Mas, o passado fica mais leve quando se torna lembrança. Não force a vista. Não insista ver o que não existe mais. Ou, o que nunca existiu. Acontece da gente enxergar no outro tudo aquilo que nos faz suspirar. Não é pecado, só é mortal. E de tudo isso que acabei de dizer, preze mais o: - não se acostume. Não fique no mesmo lugar. E se, de fato, acabar... Claro, vai doer. E dentro da tempestade você vai achar que nunca mais vai ver o sol. Só que isso não vai durar a vida toda. E você entenderá que arco íris só pode nascer do encontro da chuva com o sol.
- Olhei para minha vida! Eu ainda não entendo porque me pedem conselhos.




quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Mágoa em Analogia

Ainda morava no Rio e visitava minha família em Três Pontas com uma frequência, no mínimo, mensal. Quando retornava, estava sempre abastecida de afeto e doces. De leite. Pastoso. Uma delícia! Nem sempre eram para mim. Gostava de presentear amigos queridos com a iguaria dos deuses mineiros.
Neste dia eu caprichei nas compras e pesei as sacolas. Faria muita gente feliz com tanta doçura!
Estava chovendo no Rio e eu fui descer as escadas do condomínio da minha tia, sempre em fase de reformas. Estas escadas davam acesso à rua debaixo e me encurtava o caminho em três minutos, pelo menos. Eu sabia que, com a chuva, elas ficavam escorregadias. Mas, nada que o cuidado ao descer não evitasse qualquer tragédia. Afinal, eu estaria adiantada três minutos para fazer um bocado de gente feliz com doce de leite. E segui, rumo as escadas escorregadias, com a sacola carregada de doces e uma euforia infinita. A pressa em ser feliz, fazendo os outros felizes.
Não deu outra. Um tombo daqueles! Tombão! Cai batendo os glúteos degrau por degrau, quatro abaixo. A sacola não saiu da minha mão. Segurei como minha vida. Vão os glúteos e ficam os doces. Mas, as compotas eram de vidro. Não sobrou nenhuma.
Eu prendi o choro por vergonha de mim. Ser afoito, apressado e desastrado! Os glúteos? Doeram! Mas, as compotas de doces quebradas doeram muito mais.
O roxo que ficou parecia mesmo que eu havia sido atropelada por um trator. Pegava da parte inferior da coxa, acima do joelho, até a lombar, próxima da cintura. Ficou feio. E demorou quase dois meses para sumir. Além do roxo, ficou uma bolinha no glúteo esquerdo, que parecia uma celulite invertida. Realmente, ficou feio.
Preocupada com a estética "traseira", procurei uma clínica de estética para retirar aquele "carocinho feio", fruto do tombo, com massagem ou outro método que fosse possível. A resposta da esteticista foi desanimadora: - Minha filha! Vai ter que conviver com este "charme". Isso não sai com massagem, nem com laser e menos ainda, com o tempo. Você vai acabar se acostumando com ele. Talvez, até esqueça que tenha. Ou, só sinta incômodo quando o ver. Mas, não sai. Isso aí bateu forte, tanto, que... magoou.
Entendi agora o que é mágoa. E todo o resto da história me fez entender o caminho que a gente faz até a mágoa.


Débora Andrade


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Perto da Primavera

Setembro. Outro ano floresce e, nas mãos, ainda há um jardim de ontem, persistindo história de flores.

Sossega, coração. Todo tempo existe para passar. Deixe a música tocar e vai reorganizando as gavetas. Há algo que ainda tire algum proveito. Alguma lembrança que te faça suspirar. Mas, cuide para que não pense em amanhãs. Se alimente de hoje, de presente e pode sorrir para o que virá. Nada pode doer além daquilo que você permite. 

Não guarde e nem aguarde espinhos. O que doeu, passou. Um jardim novo sempre florescerá para quem o faz. Prepara, fértil, teu solo de versos. Novos poemas virão para decorar teus dias e eternizar tuas noites.

Lembrará, vez ou outra, das rimas com gosto de sol às sete da noite. E, talvez, tenha saudade do verde que te cercou. Mas, os horizontes se renovam com o olhar. Se a gente fecha os olhos e faz uma prece, quando eles se abrem, nova cor tem o pôr do Sol. Amor restitui os cacos e floreia os campos devastados. 

Setembro. Deixe a primavera chegar no seu coração e florescer um novo ser.