Cor, Alegria e Amor

Que a sua vida tenha cor, alegria e amor.

Entre, "sinta-se" e descubra quanta cor há em você!

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Abraços de Versos

Abraços de Versos

Desfaço os nós que deram em meus braços porque as letras estão pingando dos meus dedos. Elas são mais rápidas que minha voz. Me desprendo. Me solto. E junto as mãos. Parece um gesto de súplica ao Universo, como quem pede: - passa logo, mundo pequeno. Minha Terra é imensidão.
As letras se juntam neste gesto de mãos postas. Meus braços se voltam ao meu redor, como se fosse eu, o seu mundo. Meu abraço não sabe ser sozinho. Letras e mais letras, e em minha volta, como quem me afaga, estão elas - as palavras. Parece um abraço de versos. Porque eu invento o que me falta. E eu nunca soube viver sem abraço. Sem letras. Sem versos. E o meu reverso é só poesia. Rima corrida, com pressa de viver. Letras loucas, andantes, que saem em busca de abraçar você. Porque minhas palavras também não sabem viver sem gente. Precisam de lugar. E o lugar que elas prosperam... É coração. Meu. Seu. De gente.
Débora Andrade

Março de 2020, em tempos de Corona Vírus

Abraço vestido de letras e palavras*

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Flores no Peito


Anoiteci angústia e, no choque das nuvens, chovi.
Adormeci cinza.
Três dúzias de palavras fizeram minha cama.
Elas saltavam pra dentro de mim. Saltos em sincronia com as palavras engasgadas.
Me sufoquei. Gritei pra dentro.  
E agora minhas letras dançam nos céus.  
É neste bailar de letras que angústia virava poesia.
Amanheci em versos...
E hoje, vi flores nascendo em meu peito.
A boca cala o que o coração está cheio.
Deixo os versos para as mãos.
Amor. Amor. Amor. Amor. Amor.
É o que o escorre dos meus dedos para as rimas.
Amor nunca foi só calmaria. 


Débora Andrade
Autocolante Pixerstick Desenho do coração humano com flores ...

segunda-feira, 9 de março de 2020

O Abraço de Dráuzio


Tenho uma inclinação forte para a caridade. Desde criança. Não sei se é dom, carma ou, se é convivência com minha avó materna (falecida) e minha mãe. Desde criancinha eu assistia as duas tentando ajudar as pessoas, mesmo que elas estivessem, também, precisando de ajuda. Minha mãe, com 15 anos, pegou nos braços um menino recém-nascido, enrolado no vestido de sua mãe biológica que o deu por não ter condições de criar e, o adotou. Minha avó acabou tendo o papel de mãe, claro. A pirralha da minha mãe só tinha 15 anos.  Mas, esta é outra história...

Já levei mendigo pra casa para almoçar na mesa com a minha família. Mais tarde descobri que era um golpista. Brincou com minha generosidade. Houve época que fui mais ingênua. Esta, por exemplo. Nesta mesma época, eu era enganada semanalmente por uma garotinha na Praça Saens Pena, no Rio. Ela usava a mesma conta de luz para pedir dinheiro. Eu dava. Não aguentava aqueles olhos tristes lacrimejando.

Ainda nesta época, na fila para doar sangue no HemoRio, uma senhora chegou contando uma história triste que havia sido assaltada e não tinha dinheiro para voltar para casa. Eu tinha na bolsa o riocard e 5 reais. E parece que eu tinha mais que ela. Dei os 5 reais. 1 minuto depois um senhor veio me dizer que ela fazia aquilo ali sempre. Com a mesma historinha.

Depois de tantos outros episódios parecidos, eu entendi que não mudaria nada em minha sociedade colocando bandaid nas feridas alheias. Que era preciso fazer mais. Doar cestas básicas, dar um dinheirinho aqui e outra ali, não mudaria muita coisa. Me deu vontade de fazer mais. Foi então que conheci a ONG Junior Achievement. Eles capacitavam pessoas simples em monitores de empreendedorismo e atuavam em escolas públicas no Rio de Janeiro. Fui dar aulas pela periferia do Rio.  E notei que era este caminho, mesmo. Foi uma experiência que eu ganhei muito mais do que doei. Me somei àquelas vidas, fazendo diferença, mesmo que pequena, no cenário da vida delas e na minha.

Passado um tempo, quando eu estava Secretária de Cultura de Três Pontas, conheci uma moça chamada Rita Luz. Era psicóloga do presídio da cidade. Ela desenvolvia projetos maravilhosos e, quase sempre, nos solicitava apoio, o que me possibilitou a conhecer mais de perto e, consequentemente, seus projetos com os reeducandos (era assim que ela gostava que chamássemos) daquele presídio.  Como eu a admirava!

Um dos projetos era desenvolvido pelo Oswaldo Duarte, músico e professor de artes. Ele regia um Coral e, também, dava aula de flauta. O outro era desenvolvido pela Marita Duarte, atriz e professora de Teatro, ela dava aulas de teatro. Um dia a Marita me convidou para ir a uma aula sua lá. Eu fui. E ali, na cela, entendi um tanto de coisa que eu não entenderia se tivesse continuado no meu lugar comum. Passado um tempo, a Rita me ligou e disse que gostaria muito de iniciar um projeto de aulas preparatórias para o ENEM PRISIONAL e se eu poderia ajudar.  – Eu? Oi? Com presos? Criminosos? Há não muito tempo eu tinha perdido um primo assassinado e, sim, poderia me encontrar com o assassino dele lá. Dar aulas para ele? – Não, não. Vou querer é dar uns três socos e uns sete chutes. Me deixa aqui, dando aulas para as crianças, visitando os velhinhos da Vila, né? Já estou fazendo minha parte!

- Uai!  E minha forte inclinação à caridade? Eu não queria mudar a realidade da minha sociedade? Não queria uma vida melhor para as pessoas, sem distinção? Que olhar de julgamento é este, Dona Débora?

Foi então, em meio a mil questionamentos meus, à mim mesma, que entendi que, se eu queria transformar alguma coisa, era ali. Junto aos renegados, aos excluídos, ao “lixo da sociedade” – como um deles um dia se referiu à si mesmo para mim.

- Oi, Rita. Então. Posso dar aulas de redação. Começamos por interpretação de texto.  Pode ser?

Preparei-me psicologicamente, bem mais que didaticamente.  Preparei a aula e levei “O Sal da Terra”, de Beto Guedes, para interpretarmos.  Eu precisava de música ali. E acho que acertei, porque eles também precisavam.  Quem não precisa?

Fui.  Em uma cela grande, com quase 30 homens e, do lado de fora, dois policiais e um cachorro nos vigiando pelas grades. E me lembro como se fosse hoje a minha frase para eles: - Não estou aqui porque sou boazinha. Estou aqui porque penso no futuro dos seus filhos e dos meus filhos. E não há caminho para um futuro melhor que não seja a educação. Não me interessa os crimes que vocês cometeram. Me interessa que vocês tenham interesse em melhorar como cidadãos.

Não durou muito tempo. Foram, no máximo, 5 aulas. Um dos alunos não se comportou bem “extraclasse” e,  todos eles foram punidos com a paralisação do projeto.  Foi a experiência mais enriquecedora da minha vida. Eu me despi do preconceito, do olhar julgador, do medo e fui, talvez somente ali, caridosa de verdade. Porque é muito fácil ser bondosa com quem é bonzinho. Difícil mesmo é atuar junto da marginalidade, entendendo que eles precisam de ajuda, de bondade, de caridade.  Mais difícil ainda é ter a consciência de quem ninguém é melhor que ninguém. E que se eu quero transformar alguma coisa, é ali, na causa da ferida.

Este episódio da Suzy e do Dráuzio me fez viver emoções muito distintas em dois momentos. O primeiro foi quando a sociedade parecia ter entendido aquele abraço. Fiquei feliz e esperançosa, pensando que as pessoas são capazes da generosidade e do não julgamento. Que esta onda de amor poderia transformar tanta gente para o bem! Li algumas comentários de pessoas dizendo que não se posicionavam porque não sabiam o crime que ela havia cometido e pensei – Oras, e o que isso, neste momento importa? Agora importa que ela estava ali há 8 anos sem um abraço. E ali mesmo previ que,  algumas pessoas, para provarem suas razões, procurariam seus crimes, para apontá-la e dizer que ela merece mesmo estar ali sem abraços, sem amor, renegada pelo mundo.

Ontem à noite, sem provas concretas, vi várias publicações que acusavam Dráuzio e a Globo de hipocrisia. Dizendo que o crime de Suzy teria sido violentar e matar um menino de 9 anos. Claro que isso é chocante. MEU DEUS! Uma criança de nove anos! Esta família! E todas as outras que já sofreram com isso, eu queria, também, abraçar! Apagar um episódio deste para sempre! E impedir que isso aconteça outra vez com qualquer outra. É obvio que a emoção fala muito alto, nestas horas. A gente que é mãe, se coloca no lugar da outra mãe e dá mesmo vontade de matar quem fez mal à uma criança.

Mas, amores, Dráuzio não estava ali para saber nada sobre os crimes cometidos pelos detentos. O que, na verdade, ainda ninguém sabe, até então. Nada foi provado. Ainda não sabem se Rafael é Suzy.  Dráuzio estava ali fazendo uma matéria sobre o abandono de trans e travestis no sistema carcerário. E o abraço, meus amigos, é um impulso humano, de quem, naquele instante, foi empático e sentiu que, era só aquilo que faria bem à Suzy. Creio que, da mesma forma que escolhi me vendar e enxergar ali o ser humano que precisava da minha ajuda, por 5 dias de aulas, Dráuzio deve ter feito pelos 30 anos que se dedicou como médico no sistema penitenciário.

Não posso crer que, todo este “cristianismo” pregado nas redes digitais, que nos julga “defensores de bandidos e assassinos”,  seja o que Jesus, o mesmo das quebradas, que defendeu Maria Madalena, que perdoou seus próprios assassinos,quis  ensinar um dia. Se apropriar da religião e do nome de Jesus para condenar um abraço? – Isso, sim... é hipocrisia
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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Dos versos que me fiz


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Letras saltam do meu peito para as pontas dos dedos.
Me escrevo. Reescrevo. Retoco, sem muita preocupação do fim, uma vírgula ou outra.
Tem uma mania de liberdade dentro de mim que pulsa e rasga meus nós.
Reinvento meu espaço na finalidade do ser. Mas, sou só verbo infinitivo conjugado por um sujeito indeterminado que nem sei se sou eu o que quero ser.
Quero ser letra. As que saltam do meu peito e meus dedos rimam os versos. Um poesia nada concreta, marginal, além dos limites que posso ser.
Quero ser mais um tanto de mim. Desta alegria que me sobra. Destes sonhos que me transbordam.
Quero ser sujeito composto, elíptico, oculto, subentendido. Um tanto de coisa nenhuma que não pesa, passa, mas faz cócegas. É feito entardecer que ainda brilha luz, mesmo cansado.
Vou suspirando poesia e transpirando os versos que me fiz. Tatuando pelo mundo um pouco deste tanto que quero ser.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

A lua no meu peito

Trilhei um tempo à procura do sol
Fiz minhas tempestades embaixo do telhado de sonhos
E vivi dor no caminho que pensei ser amor.
Percebi a lua quando vivia a escuridão
E só então percebi que a sua luz me alcançava
E foi a lua quem me deu direção até suas mãos
E suas mãos me devolvem direção
Tua luz, entre as nuvens, me sinaliza o caminho certo
E é junto dos teus braços que eu tenho paz
Trilho caminho junto de ti
Passo a passo, te tenho por perto
E o telhado de sonhos deu lugar ao céu
As estrelas me revelam que amor não dói
E se antes eu trilhava a procura do Sol,

Hoje sei que a Lua tem o tamanho do Sol que meu peito precisa. 

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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

"Venha o vento que vier e se virar, nada"

"Venha o vento que vier e se virar, nada"

Esta frase é de uma canção do Grupo Rubel. 

Hoje, ao retornar minhas letras, me deparei com ela. 

Visitar minhas letras é o mesmo que me visitar. Às vezes, caminho distante e ainda não me vejo. Nem mesmo de longe. Mas, quando há este exercício de me ler, eu me retorno à mim e me retomo. Este gosto de ser minha. Este vício de ser dona de qualquer coisa de mim. 

E hoje eu me lembrei que eu sempre fui de me virar. Vindo qualquer vento. E que as tempestades, embora me tirassem a direção, sempre me fizeram voar. É porque nunca tinha medo. Me esqueci do nunca. 

E hoje, paralisada, ouvindo a música pela nona vez, pedi perdão à mim. Passarinho no ninho. Apreciando o céu que é seu. Fazendo poesia sem rima de uma vida de versos assimétricos e canção sem compasso.   - Pode pular. Vai. Tuas asas nunca saíram do lugar. Pode voar. 


Débora Andrade

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quarta-feira, 29 de março de 2017

Copas

Criação que cria. Cria ação, atura.

Feita por mãos vindas dos céus, em formas perfeitas,
Tão deusa, quase santa, com dose doce de pecado entre curvas. 
É dona de pranto, de canto, tem manto, tem amor para cura.

Donas de sorrisos francos e risos cênicos,
É poesia que emerge das pedras,
É prosa que sucumbe as dores,
Pinta arco íris em qualquer cinza com suas cores.

É silêncio. Destes que sabem invadir barulhos, rimando versos agudos.
Corpo, misturado com alma, que repele o medo com sorriso e abraça o futuro no ventre.
É quem vive, não só aguenta. Que tem a ternura nas mãos reticentes de arte.
Dona dos mapas que a cabeça dança, pinga sorrisos e esbanja elegância.

Dona de um mundo que cabe no colo, no verso, na capa, no pão, nos olhos.
Contorcionista das dificuldades, malabaristas das objeções.
Maria, Ana, Rita, Joana... todas, tantas e muitas. Nenhuma igual a outra. Todas elas, gigantes. Mulheres. Deusas, não santas. Mulheres.
Débora Andrade

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