Cor, Alegria e Amor

Que a sua vida tenha cor, alegria e amor.

Entre, "sinta-se" e descubra quanta cor há em você!

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

E o que houve, ainda há.

Insisto. Vejo, talvez, um novo sol. Este, de dentro de mim, carregava teu nome já num brilho por um fio. Tanto fez o "tanto faz" que se desfez. Do dilacerar que o coração até tropeçava em tom especial na tua porta, sobrou um tica-tac, por um triz, na minha janela.
Morre um mundo, quase mudo, dentro deste peito de festas. Consciente, não há nenhuma condição para renascimentos. O seguir, tão leve e forte, feito vento ou feito as penas de nós. Vou recriando em mim novos caminhos, novos desertos, que também são necessários para conhecermos nossa resistência à sede, à fome, ao calor, à solidão, à nós.
Um passo atrás e já não mais te vejo. E quando te sinto, renego o gosto. Há tantos outros cheiros bem iguais. Chega de ser especial. Em mim, já nasce novo sol. E nasce porque eu desejo e acredito nele. Amanhã, como todo sempre, recomeço. Mas, sem mais nada do que não deveria ficar.
Haveria um jardim, das mais bonitas e variadas cores e flores, por todo nosso caminho. Haveria ainda as mais belas e doces canções trilhando nossos sonhos e realizações. Eu seria ainda, bem capaz, de reconstruir novo mundo com tudo que fosse essencial para nos fazer e manter felizes. Haveria, se houvesse. Mas, não sei mais, então, se houve. Sem mais.



domingo, 28 de dezembro de 2014

Outro Novo Ano

Não vamos mudar a quantidade de dias do ano, nem mesmo os bissextos. Os dias, por mais curtos que possam parecer, continuarão a correr 24 horas no relógio. O Sol ou a Luz continuarão o revezamento caracterizando dia e noite. Algumas estrelas ainda cairão do céu. Outras, surgirão. Muitos continuarão a fazer pedidos às cadentes. E, neste sempre "talvez", há de realizar um ou outro.
O tempo foi feito para passar. E, bem lá no fundo, na sua mesmice ludibriosa. E continuarão a existir coisas que nunca mudam. Como a espera pelos girassóis.
Há de insistir a gana pela alegria, a sede pela folia, os sonhos em demasia e aquela mesma energia. No coração, ainda haverá espaço para o amor, tão latente e pungente, naquela montanha russa entre a fantasia e a realidade. Mas, para todas as coisas que mudam, há de mudar a visão: - é preciso enxergar verdades e mentiras. Discernir o barato, o avesso, o extraordinário, o real do imaginário. Há de, não mais, acreditar em meia dúzia de gestos bonitos e palavras doces. É preciso entender que amor é, também, compromisso.
E do tempo que virá, dos girassóis que ainda surgirão, haverá o intrigante mistério da fé. Amanhã sempre existirá. E todo dia, é novo dia. Chance para recomeçar.
As feridas se fecharão. As cicatrizes serão apenas histórias. E toda aquela história que parecia verdade, será páginas do livro lido, sem exigências de interpretação.
O tempo passa. Foi feito para passar. E gente que gosta da vida, se transforma, pira, respira e se vira. E o plano para o próximo ano é o de sempre: - Ser feliz.


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A Última Crônica

Éramos mais do que deveríamos ser. Mais que poderíamos ser. Mas, éramos nós. Misturados um ao outro, tornando a vida além.


Acreditei em todos os teus sorrisos e, por isso, me permiti viver fora das minhas margens.  Tua face iluminada de riso traduzia bem o efeito que nossa presença exercia um sobre o outro.
Eu li confissões nos teus olhares. Eu me permiti vivenciar tuas emoções expressas em todos os abraços duradouros e confortáveis. E quantas vezes eu bebi palavras de afeto e ternura no gosto da tua boca...

E parecia que, então, permitíamos o amor dentro e fora da gente. Cercados de silêncios e de sons, coberto por céus esperançosos e embalados por uma liberdade que parecia nos entrelaçar.  Nossa presença parecia somar sonhos do mundo inteiro. E cabia bem dentro e entre nós. Quase um vício.

Você me trouxe amor em forma de beijo, abraço, música, flor... Em forma de cartas, de bilhetes nos bolsos, de estradas, de sorrisos fáceis, de gargalhadas... Você me trouxe amor em pedaços, feito quebra cabeça, cada vez que parecia abrir a porta cerrada do teu mundo.  Trouxe-me amor em forma de “bom dia” e “boa noite”,  em cada vez que, antes de dormir ou na hora de acordar, me demonstrava o desejo de enfeitar meu dia com tua presença.

Você me trouxe amor em forma de recomeço, toda vez que me convencia com teus olhos que era daquela vez que você conseguiria, enfim, viver uma vida sua, do seu jeito.
Trouxe-me amor em forma de tropeço todas as vezes que você quase caía e contava comigo para se levantar ou, apenas rir do tombo com você. Éramos "par", parceiros, companheiros.

O amor veio com você em tom de novidade, de desespero, de sede da presença, de calor do corpo, de corpos envolvidos, de almas em sintonia. Era um amor com sabor de ponto final, mas, você degustava comigo as reticências. Incentivava e criava novos parágrafos, sempre distante do fim. 

Você me trouxe um amor que não coube só em mim e devastou minhas impossibilidades, gerando em mim, nova vida.

Eu acreditei em todos os sinais. Em toda persistência: da vida, dos acasos e, principalmente, na sua.
E hoje, ainda tão perto de um fim sem desfecho, cubro esta ferida exposta, ainda sangrando; engulo minhas palavras de dor e, sem poesia, escrevo esta última crônica de nós, em busca de perdão.

Eu me perdoo. Me perdoo por ter me deixado amar. Por ter me permitido viver este amor sem rumo. Me perdoo por ter acreditado neste amor que me trazia, leve e bordado com estrelas.
Me perdoo por trair minha intuição quando preferi acreditar no teu desejo de mudança e de vibrar uma vida bem junto à mim. Eu sentia o cheiro de vírgulas e ponto final na tua covardia.

E eu te perdoo. Pela tua falta de tato, de prumo e de consideração. Pela tua covardia em não dizer o que era, de fato. Perdoo por me fazer acreditar na verdade de tuas letras e na doçura dos teus garranchos que confessavam a alegria da partilha de uma vida entre nós dois. Te perdoo pelos beijos sinceros, pelos abraços de oito minutos, pelo Sol que nascia às sete da noite, pela euforia do teu corpo junto ao meu, pela alegria de perpetuar tua vida em mim...

Eu te perdoo pelo vinho entornado, pela ardência da nossa pele... Te perdoo pela falta de valentia e de fé em si mesmo...  por me dizer que o amor foi feito para mudar direções e, ainda assim, não mudar a sua.  Te perdoo por ter escolhido, mais uma vez, ser um troféu.

Perdoo por ter sido o homem dos meus poemas, mas, não ter a coragem de me dar adeus. De escrever nossas últimas linhas, em dissonância com minhas mãos. Mesmo que o caminho não fosse lado a lado. Seria de bom tom para quem falou em amor, saber terminar com amor, ainda que não fosse aquele de desejo. Que fosse o amor de duas almas que se encontraram tantas vezes nos sonhos em busca uma da outra. 

Te perdoo pela confusão, pela tamanha dor causada por ela. Enfim, eu te perdoo por todo o resto e também, pelo que ainda virá.

Eu te perdoo para conseguir me perdoar. E só assim, ter o fim na mão. Mesmo sem explicação.

Débora Andrade



quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Não há engano no Amor

Não há engano no amor. Quando ele chega, sabe-se pela pele, pelos pêlos, pelos poros.
O amor é tato, é toque. Ele toca. Da alma para o corpo e do corpo para a alma.
Não há engano no amor. Sente-se pelo frio na espinha e pelo calor no coração. Sente-se pelo suor das mãos e pelo arrepio no corpo.
Sabe-se que é ao ouvir suas extravagâncias de ritmos sem compassos. O amor silencia os redores enquanto faz barulho dentro da gente. Ele se manifesta como festa dentro de nós. Transforma música em história de dois.
Confirma-se pelos olhares confessos que não toleram calar o que a boca muda ou emudece.
Reconhece-se pelo abraço que se faz casa de afeto, de onde a gente não tem vontade de sair. Pelo o encontro dos lábios transmutando o beijo em encontro e reencontro. Sabe-se pelo gosto.
Sabe-se pelo sorriso que transborda alegria no brilho dos olhos ao ver um ao outro. E o coração faz festa outra vez.
Não há engano porque o amor não cega. Só faz enxergar além do que vêem. Porque sabe-se pela respiração, pelo cheiro que fica; pelo desejo de ir, vir e voltar correndo para o mesmo colo; pelo tempo que passa voando, pelo pôr do sol de inverno, pelas flores no asfalto, pelas impossibilidades que não são e pela simplicidade de uma poesia. Não há engano no amor. E nem amor em nenhum engano.

Débora Andrade



sábado, 25 de outubro de 2014

Vire à Direita

Palavras interrompidas. De nossas, passaram à minhas em tom de lamentação. Nada pode ser mais doloroso que mentiras.
Eu ainda sentia o perfume das flores, misturadas ao do seu abraço. Ainda salivava aquele gosto nosso. Ainda esperava o amanhã do "reencontro forjado pelo destino", do "feitos um para o outro".
Você ainda sinalizava à direita no caminho que daria à "nossa vida", quando subitamente, virou a esquerda, me deixando sem saber se eu deveria ir ou ficar. Se era um atalho ou, se realmente, me disfarçava por outros caminhos.
Desastrosamente, iniciou-se um vendaval. E um redemoinho engolia, violento, coisas nossas. Não enxergava mais as esquinas e me perdia nas margens de mim. Algo faltava no peito e sobrava nas entranhas uma dor, quase física, das lembranças destruídas. Palavras interrompidas. Toda minha verdade, tornada forçosamente, mentira.
As horas se arrastaram por bons e cruéis dias. Tudo era nada e eu, ali, entregue à missão de te fazer sorrir. Aguardando ansiosa pela completude que você desejava.
Ao te dar asas,  me esqueci que meu dom sempre foi voar.
Refeito os dias, passado o vendaval... me desfiz dos cacos e das sobras. Nunca fui de me contentar com faltas. Nunca fui de colecionar clichês melodramáticos.
O Sol me brilha todas as manhãs e me convida a viver no alto. Bem perto dos pássaros.
Talvez, de lá, eu até consiga te ver. Mas, naquele dia que você virou à esquerda, eu me vi outra vez. Talvez, eu tenha me encontrado enquanto você se perdia.

Débora Andrade


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Olhos Abertos

... é como deixar que as letras surjam, redesenhando um novo sentido na vida. Sem me ligar com as regras ou atentar, crítica, à pontuações. 
Parece que o vento soprou outra vez e me trouxe na brisa algumas palavras novas. 
Parece que o tempo me deu um novo  jeito de escrever. Assim, começando com reticências para que o início não seja, talvez, um fim, feito estas histórias que não terminam sem nunca ter começado. Farta. 
É que hoje eu abri os olhos e não tentei refazer minhas histórias. Nem tentei entender as tantas falhas destas entregas às margens de mim. É que hoje eu anoiteci, antes de amanhecer. E despertei o sol em mim. 
... é como achar que tudo era, de fato. E de fato, era. Destas histórias que se assemelham ao vento: não se vê, mas... se sente. E tudo, em demasia, perde o ponto. Nem reticências e nem ponto final. É que hoje, eu abri os olhos. E me vi, antes de ver você. Amanheci, antes de anoitecer. E acordei o sol.
"...sobrou meu velho vício de sonhar..."

Débora Andrade



segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Tão Perto, Tão Longe

Nunca estivemos tão longe. Dentro de um quadrado, ilusoriamente organizado, escondendo as gavetas entulhadas de nós, sem explicações.

Distante, livros que nao contam nossa história, porque morreu antes dos olhos se fecharem. Um livro que nem se abriu.

A hora, que antes voava entre os braços, hoje, carrega o peso de uma estranheza mútua. E os nós, que antes se despiam de segredos e traduziam olhares e gestos, ali, no espaço em comum, são incomuns como se nunca tivessem passado um pelo mão do outro. Como se, antes, não tivessem vivido num mesmo sonho ou em um mesmo coração.
Éramos nós, mas éramos outros. Disfarçando na estranheza a intimidade que, um dia,  revelou corpo e alma. Em fuga dos toques, das palavras e do consumo de dois. Como se nunca tivessem chegado a ser um.
E na hora lenta,  passa como quem não tivesse passado. Nada mais parece ter importância. Porque parece que não houve nada de mais. Não houve nada.
Nunca estivemos tão longe.

Débora Andrade


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Escrevendo

Trata-se do lírico. Um "eu" estúpido que acredita entender tudo e entende tudo que acredita. Coloca cores nos dias cinza e flores em jardins devastados, secos, quase sem vidas. Revive cores de flores, menos dores e mais amores.
Trata-se de um olhar que poetisa os dias de chuva e molha os dias secos com o suor da dança em descompasso.
Talvez, um ser que cala e nunca consente. E sente, cada fiapo do seu esfarrapado coração, curando com seu amor próprio os tombos caídos e as feridas abertas.
Teimosia. Às vezes, cai... Mas, sempre levanta.
Trata-se de rimas que impregnam na alma, com cheiro de alegria e gosto de coragem. Sempre entre pontos e vírgulas, na constância de uma montanha russa. Com as certezas renovadas, desfeitas, desfocadas, reeleitas e refeitas. Mergulhando sempre no mais profundo de si mesmo.
Trata-se de quem escreve a própria vida. Só tem lápis e papel nas mãos. O resto? Escreve.

Débora Andrade


domingo, 7 de setembro de 2014

Aconselhando Amigos

- Mas, e agora? O que eu faço? Ela terminou comigo. - Agora não dá mais. Ou você acha que ainda sobrevive? - Se ele fosse mais fácil. Se me ouvisse mais. Será que ele não gosta de mim? - Então, porque não pode ser como era?  - Porque tem que ser assim?
Se me pergunta, eu respondo. Mesmo que a resposta venha em forma de pergunta. Mas, se me convidam, eu me meto. É boa a sensação do saber. Mesmo você tendo certeza que não sabe porcaria nenhuma. Eu ainda me pergunto o porquê das pessoas insistirem em se aconselhar comigo! E isso é desde os tempos de escola. Minhas colegas estavam sempre atrás de conselhos meus, quando eu ainda não tinha nem dado o primeiro beijo e elas já viviam o dilema da escolha por um ou outro.E estava sempre observando tudo ao meu redor. Todos ao meu redor. Eu queria entender o mundo. Me entender. Será por isso?
Minha vida afetiva nunca foi exemplo de sucesso pra ninguém. Cheia de excessos e fracassos. Nunca vivi metade de nada. Pulei abismos, confiei em outras asas, percorri caminhos tortuosos e cedi a alma, o coração. Tudo vivido com intensidade, cheio de verdade e entrega. Me "estabaquei", me feri. Chorei. Chorei outra vez. Escrevi poemas. Sofri. Fiz algumas crônicas para tentar me reescrever. Amei. Muito. Fui feliz. Fui enganada pelas asas e ainda acredito no vôo. E ainda tem maluco para querer um conselho de quem tem coragem para viver assim? Vai entender.
O que você faz, amigo? - Vai lá e, se você acha que vale a pena, persista. Só não fique o tempo de passar o amor. Se ele passa, passa todo o resto. Não sobreviva! Viva! É muito mais emocionante, embora mais perigoso. Tente respeitar o espaço do outro. O jeito do outro. Mas, não se torne outro para viver ali. Nada vale este sacrifício. Se estiver morno, esquente ou, gele de uma vez. Corra léguas de qualquer coisa que não te faça sentir vontade de rir. E não se acostume. Se for preciso, mande flores. Escreva um poema. Mas, nada vai valer mais que um abraço. E se neste abraço você não a sentir... Faça as malas. Talvez não caiba na mala toda saudade do que foram juntos. Mas, o passado fica mais leve quando se torna lembrança. Não force a vista. Não insista ver o que não existe mais. Ou, o que nunca existiu. Acontece da gente enxergar no outro tudo aquilo que nos faz suspirar. Não é pecado, só é mortal. E de tudo isso que acabei de dizer, preze mais o: - não se acostume. Não fique no mesmo lugar. E se, de fato, acabar... Claro, vai doer. E dentro da tempestade você vai achar que nunca mais vai ver o sol. Só que isso não vai durar a vida toda. E você entenderá que arco íris só pode nascer do encontro da chuva com o sol.
- Olhei para minha vida! Eu ainda não entendo porque me pedem conselhos.




quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Mágoa em Analogia

Ainda morava no Rio e visitava minha família em Três Pontas com uma frequência, no mínimo, mensal. Quando retornava, estava sempre abastecida de afeto e doces. De leite. Pastoso. Uma delícia! Nem sempre eram para mim. Gostava de presentear amigos queridos com a iguaria dos deuses mineiros.
Neste dia eu caprichei nas compras e pesei as sacolas. Faria muita gente feliz com tanta doçura!
Estava chovendo no Rio e eu fui descer as escadas do condomínio da minha tia, sempre em fase de reformas. Estas escadas davam acesso à rua debaixo e me encurtava o caminho em três minutos, pelo menos. Eu sabia que, com a chuva, elas ficavam escorregadias. Mas, nada que o cuidado ao descer não evitasse qualquer tragédia. Afinal, eu estaria adiantada três minutos para fazer um bocado de gente feliz com doce de leite. E segui, rumo as escadas escorregadias, com a sacola carregada de doces e uma euforia infinita. A pressa em ser feliz, fazendo os outros felizes.
Não deu outra. Um tombo daqueles! Tombão! Cai batendo os glúteos degrau por degrau, quatro abaixo. A sacola não saiu da minha mão. Segurei como minha vida. Vão os glúteos e ficam os doces. Mas, as compotas eram de vidro. Não sobrou nenhuma.
Eu prendi o choro por vergonha de mim. Ser afoito, apressado e desastrado! Os glúteos? Doeram! Mas, as compotas de doces quebradas doeram muito mais.
O roxo que ficou parecia mesmo que eu havia sido atropelada por um trator. Pegava da parte inferior da coxa, acima do joelho, até a lombar, próxima da cintura. Ficou feio. E demorou quase dois meses para sumir. Além do roxo, ficou uma bolinha no glúteo esquerdo, que parecia uma celulite invertida. Realmente, ficou feio.
Preocupada com a estética "traseira", procurei uma clínica de estética para retirar aquele "carocinho feio", fruto do tombo, com massagem ou outro método que fosse possível. A resposta da esteticista foi desanimadora: - Minha filha! Vai ter que conviver com este "charme". Isso não sai com massagem, nem com laser e menos ainda, com o tempo. Você vai acabar se acostumando com ele. Talvez, até esqueça que tenha. Ou, só sinta incômodo quando o ver. Mas, não sai. Isso aí bateu forte, tanto, que... magoou.
Entendi agora o que é mágoa. E todo o resto da história me fez entender o caminho que a gente faz até a mágoa.


Débora Andrade


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Perto da Primavera

Setembro. Outro ano floresce e, nas mãos, ainda há um jardim de ontem, persistindo história de flores.

Sossega, coração. Todo tempo existe para passar. Deixe a música tocar e vai reorganizando as gavetas. Há algo que ainda tire algum proveito. Alguma lembrança que te faça suspirar. Mas, cuide para que não pense em amanhãs. Se alimente de hoje, de presente e pode sorrir para o que virá. Nada pode doer além daquilo que você permite. 

Não guarde e nem aguarde espinhos. O que doeu, passou. Um jardim novo sempre florescerá para quem o faz. Prepara, fértil, teu solo de versos. Novos poemas virão para decorar teus dias e eternizar tuas noites.

Lembrará, vez ou outra, das rimas com gosto de sol às sete da noite. E, talvez, tenha saudade do verde que te cercou. Mas, os horizontes se renovam com o olhar. Se a gente fecha os olhos e faz uma prece, quando eles se abrem, nova cor tem o pôr do Sol. Amor restitui os cacos e floreia os campos devastados. 

Setembro. Deixe a primavera chegar no seu coração e florescer um novo ser. 


domingo, 24 de agosto de 2014

Cansar não é Desistir

Sofro de um mal constante e incurável: - Penso! E nem tão logo existo. Nem rimo tão fácil. Nada do "desisto".  Ah, esta mania de insistir nas rimas assimétricas e dissonantes. Este é outro mal: estou sempre ocupada em tentativas infindas. Já tentei, também, aprender a desistir. Mas, ainda estou tentando. Amor rima com alegria. Com a dor, não. Insisto. Outra vez. Amor é bom.
Passo horas analisando situações da vida (a minha e também da vida alheia) na tentativa de entender: o ser humano, os caminhos traçados por nós e os destroçados pelos outros, o céu, as cores, os girassóis, as canções, a vida! Em algum momento dela (às vezes, em muitos),  permitimos a perda do controle e, sem perceber, assumimos nossa fragilidade tão humana e cedemos. À algo tão mais forte que tantas imposições externas e à alguém tão mais poderoso que mora dentro da gente (um eu desconhecido em reconhecimento - coração, talvez). Cedemos à nós mesmos. É tanto "tem que" e a gente se perde entre invenções e convicções sobre certo e errado,  quando tudo só deveria ser, sem rótulos e fórmulas prontas. E assim, deixamos passar o tempo, a vida, as oportunidades, as pessoas. E depois,  reclamamos que a vida não foi generosa.Trouxe o que pedíamos na hora errada, do jeito errado, com mil complicações e dificuldades. Não foi justa e nem nos ajustou. Deixou correr frouxo o destino. A gente só queria sentir vida! Destas que queimam por dentro e despertam um brilho extra no olhar. Só que o medo gela a mão e, então, a gente solta. E volta a se amarrar nas mesmices dos dias cinzas pra depois exclamar, suspirando: - Foi melhor assim! Ou: - Tinha que ser assim. Das culpas que nos livramos, as altas sempre vão para a conta do destino. Nem por isso, deixa de doer. Aí a gente contorce o corpo porque o coração parece não caber no peito e se encolhe na sombra. A gente se esconde da gente, com vergonha do espelho. Perde o caminho e força o passo nas estradas vazias e, já sem fôlego, agradece pelo que restou. Tem gente que passa a vida agradecendo por tudo que não viveu, só para economizar as emoções e tinta de caneta.
Ao medo, um mal que não sofro, devo mais respeito. Se me permitisse este limitar, carregaria algumas feridas a menos e mais histórias amenas. Ainda estou tentando entender. Deixando o tempo passar: é o que o tempo faz. E deixando renascer o amor que cura.
Me canso. Só não desisto.


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Implodir / Construir

Das expectativas desconstruídas, os sonhos em implosão.  Estranha é a sensação de sentir os tremores internos: você suporta um absurdo barulho e submerge no seu silêncio forçado. O grito perde a força. E os versos mudam: - Emudecem. Arranham a voz, forçando os olhos, confundindo as retinas. Deve ser a poeira dos escombros: um insulto às lágrimas.
Passou, talvez, amanhã. Mas, dos tijolos, colocados um a um, mesmo que não tenham visto, há outras digitais. Eu vi. Não chegaria tão alto sozinha.
Cuidadosamente, dei asas sem forçar os vôos.  Sempre tendenciei o gosto por projetos audaciosos. Tudo é além quando se emprega amor.  Amor? Sempre acreditei. Era a motivação.
Ecoa aqui, neste vazio, as palavras e canções. Vão e voltam quando eu ainda nem fui. Parece que este abismo eu não saltei. Engoli. Parado, ali, entre a boca e a garganta, feito grito preso. Feito dor que não me alcança.
Apenas esta dose, nenhuma mais, deste dissabor. Porque a vida, como eu gosto, é de renascer.  De reconstruir. E é sublime quando o caminho nos oferece a oportunidade de se restabelecer. Você vela a dor, morre um pouco, sucumbe a tristeza e volta a olhar o céu. Não tem mais poeira dos escombros. Olha outra vez e, o que há, é uma grande área, toda sua, pronta para a nova construção.

Por enquanto, não aceite ajuda com os tijolos. Mas, só por enquanto. 
Débora Andrade

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Para Sempre

Um espera com tempo determinado. A gente espera o sonoro primeiro choro como se aquele monte de ar que entrasse pela primeira vez nos seus pulmões, fosse o mesmo ar que te retirasse daquela vida entulhada de pendências emocionais. Por mais que a maturidade repentina e a sanidade à fórceps latentes e repentinas te façam, te refaçam para te manter de pé, as muitas horas daquela espera causaram um buraco enorme naquela alma que acreditava conhecer o céu, tapeando seus abismos. Ninguém é forte o tempo todo. E a verdadeira força,  mesmo, a gente vai conhecer quando alcança o o sombrio da gente, olhando sempre para o alto, acreditando naquela luz que, talvez, só seus olhos enxergam. E, embora doloroso, não é difícil perceber que o arco íris vai colorir o céu, logo ali na frente.

As lágrimas percorreram pela face, até encontrar o ouvido. O mesmo que ouvia aquele chorinho doce e forte. No coração, dentre tantas emoções encrustadas, enrustidas, próximo do choro preso, uma indescritível alegria misturada a um amor desconhecido que vislumbrava ali um mundo diferente. E para quem sempre nasceu e renasceu, percebeu então que, deveria morrer em partes, sem renascimentos. Porque dali em diante, teria uma parceria vindoura a qual dedicaria todos os seus versos e aprenderia, dia a dia, o valor da vida de forma diferente. Se arriscaria menos, porém, ousaria ainda mais pela felicidade alheia. Preocupou-se em frações de segundo com a saúde, com o passado ainda vivo feito espinho, com o futuro, com exemplos, com histórias pra contar, com explicações a dar, com os caminhos que a vida vai mostrar, com as escolhas, com o medo de partir sem se deixar... E nosso choro durou quase 15 segundos. Depois nos olhamos e sentimos o ar quente das nossas narinas. Entendemos naquele silêncio branco que, éramos uma, até sermos mais. E que a coragem nos era inerente e pertinente. Choramos, mas seguimos em frente. E agora, com um "para sempre" sem ser conto de fadas.

Chegou, em meio aos tumultos internos, desabrochando em mim a paz que precisava.

Débora Andrade


terça-feira, 1 de julho de 2014

Te Lembrar

Horizonte à frente e um longe, bem perto do peito. Uma distância que aperta os braços. Brotam lágrimas sem cor de uma saudade colorida.
Porta adentro e peito aberto. Nem mais e nem menos. Só o tamanho de caber um sonho findo. Finita dor que se vê de perto. Palpável, sem afagos. Ferida aberta. Cicatriz em transe.
Silêncio que cala o dom. Lembra riso teu.
E todos os dias passados, sem história.
Não renasce o que nunca viveu. Nem morre. Passa.
E mil horizontes cabem em uma lágrima o que nunca coube no peito. Incompreensão. Razão em paz com emoção.
Imensidão. Palavra sem lugar neste vocabulário.
E esquece o que não existe para lembrar. Te lembrar.




domingo, 29 de junho de 2014

Memórias

O tempo desfaz e refaz histórias. Reconstitui e reconstrói. Mas, é este mesmo tempo que, então, lateja constante a dor da lembrança desacreditada e a história destituída. Não há fórmulas mágicas para acelerar ou desacelerar o relógio. Ele toca os segundos, constantes, e não programa nenhum despertador. Desperta a dor.
Se então pudesse escolher um poder, pediria o de apagar memórias. Assim, poderia rasgar todas as cartas e bilhetes e, junto delas, toda lembrança inútil de beijos e abraços. Mesmo que em vão, ordenaria aos rádios e programas de tv que não tocassem mais as nossas cações e lançaria pela janela nossas trilhas sonoras, que compuseram alguns dos nossos caminhos.
Apagaria lugares, cheiros, toques, sensações e esta história.
Velaria por uma única noite, nossa imagem estática, feito foto, nos tantos abraços apertados e no silêncio mudo das milhões de palavras que nasciam no meu peito quando encontrava o teu. Viveria o luto deste enredo só meu, para me livrar do peso constante das tuas tantas mentiras.
Só que o tempo, nada generoso comigo, me concedeu o poder da saudade. Me deixando apenas com o barulho do relógio me contando que amanhã, ainda, é pouco tempo para que eu esqueça sua voz e viva a minha vez.
Mas o tempo ainda segue feito o mundo e a vida, em círculo. Hoje, eu, meio dia. Amanhã, eu, meia noite.
E adormecendo vão as memórias.


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Conto de Aurora

Aurora despertou já era tarde. A Lua, que já apontava no céu misterioso de inverno, desvendava as estrelas que brilharam, um dia, naquele olhar. As verdades e mentiras moram no mesmo lugar. E algumas estrelas são só cadências.
Aurora tinha as cores da vida numa caixinha mágica. Vivia a espera de alguém com quem pudesse pintar seu arco íris. Construía castelos. Se vestia de sonhos. Se despia de medos. Era a valentia de toda covardia. Era a expressão da alegria, num sorriso largo e sem nenhuma vergonha. Aurora era a manhã dos dias depois de tempestades. Tinha jeito acalentador de reerguer pontes devastadas. E ela acreditava em tudo isso.
Sem hora, ela tomava a vida em conta gotas, sentindo a dor e o prazer das flores, com sabedoria de espinhos. Não aprendeu a virar mesas. Aprendeu a se virar.
Sempre deu importância grandiosa nos gestos, nas poucas palavras. Acreditava nas verdades, mesmo encobertas em céus nublados. Nunca duvidou da existência soberana do Sol. Ela guardava papéis e rabiscos. Montava quebra cabeças e forjava peças que encaixavam mãos e apertavam abraços. Tirava os pés do chão e forçava asas. Mergulhava no mais profundo oceano para desvendar pérolas. Entre ostras,  quase se afogou com palavras de amor. As pérolas eram só grãos de areia.
Aurora, de todas as manhãs, anoiteceu ao despertar. E hoje, em passos lentos, utiliza dos vôos e das quedas, para reencontrar suas asas. E mergulha raso, até entender a verdade das pérolas.
Aurora despertou.

Débora Andrade

sábado, 31 de maio de 2014

Sem mais

Me perdi, outra vez, entre as pérolas que não sei se são. Entre palavras que nada mais eram que, palavras. Sem nenhuma verdade. O vento levou, sem tempestades. Bem leve, me deixando o peso do tempo.
Hei de refazer as histórias, sem nós, sem laços. Sem rever o calendário. Sem reler amores em vão. De ostras sem pérolas.
Há de apagar, em breve, todas as estrelas que pintei neste azul marinho, sem lestes e nortes. Todos os outros céus, deixei piscar, reluzente, um pouco da luz que foi. Existiam motivos para restar pó de lua, cheiro de sol.
Mas, existem histórias que saem das nossas mãos e se resumem em sombras. Até as lembranças de luz, doem.
E toda cor, em cinza, fica para trás. Porque o arco íris era só ilusão de ótica.
Outras cores virão.
Aqui jaz uma história que não deveria ser. Sem ostras e sem pérolas.
Sem mais.





sexta-feira, 30 de maio de 2014

A quem vier...

Se vier, chegue para amar os meus defeitos e a minha entrega. Eu não quero mudar este meu jeito de enxergar a vida, sempre bonita, colorida; encontrando as oportunidades de riso nas impossibilidades.
Não aprendi jogos de desamor. Não vou lutar contra minha essência, de se entregar confiante ao que sinto e viver, às cegas e às escuras, tateando o futuro na palma da mão, com as pontas dos dedos.
Não quero me armar de artimanhas e estratégias que minha razão saberia, com astúcia, desenrolar. O amor não pode ser este jogo de prende e solta, de medo, de insegurança ou dependência. Não saberei amar de outra forma, senão esta, embriagada de verdades que até parecem ilusões, de tão doces!
Seguirei meus dias, mesmo que próximo dos últimos, cultivando a intensidade, sem temer os tombos. E se você chegar e aceitar o que sou, saberei me doar, bem como sou e sem medidas, tendo como a felicidade como consequência.
Tenho minhas muitas linhas escritas. Transformei amores em versos, contornando minhas margens. Fiz de gente, rimas.  Mas, pontuei finais.
Recomeçar nunca foi dificuldade para quem sabe morrer e renascer. Conheço e sei usar pontos finais.
Se vier, chegue para ser reticências.

Débora Andrade

domingo, 25 de maio de 2014

Não é Faz de Conta

Abri a janela. Só uma fresta, para a luz do Sol entrar devagar. As músicas estão em volume baixo, o suficiente para chegar à alma. Repeti o ritual do bom dia: - agradeci por tudo que virá,  respirei bem fundo, tirando da cama o pé direito, e suspirei a certeza de que tudo está como deveria estar. Plantei mais uma manhã em mim, regando com alegria e fé todos os frutos que virão. Serão doces.
Num canto do quarto, as malas, sempre prontas. Hoje, pesam mais. Um monte de "quando", de "mas" e de condições que fui amontoando para ir ou ficar. Preciso refazê-las. Retirar os pesos.  Tantas palavras e promessas em vão, servindo de acúmulo e ocupando espaços.  É só soprá-las ao vento. Deixá-las ir, tomando o rumo dos ventos, enfeitando os ares de rimas. Abraçar verdades tornando-as concretas, desfazendo o abstrato. Infeliz de quem não sabe o que é amar e de quem não sabe viver amor. Triste aquele que não experimenta a beleza de ser, de estar. Felizes os que são plenos.
Penso em minha menina. Na condução dos seus passos. A ela, darei à parte mais íntegra de mim. Serei seu exemplo de sonhos bons e darei a certeza de que cada segundo de luta é válido, até quando não há conquista.
A ela darei o exemplo da força, da fé, da alegria e da gratidão à vida. A lembrarei que dias de chuva só existem para nos trazer arco-íris. E que a vida nunca será morna se estivermos dispostos a ferver. Que a alegria é ingrediente de dentro pra fora. E que a gente tempera nossos pratos com nossas mãos. Que a responsabilidade do amanhã é o feito de hoje. E que nada pode ser em vão se houver amor.
Direi a ela que pulei abismos confiando em minhas asas. E que em todos os saltos, eu voei. Mesmo naqueles que caí. E que todo tombo é válido se o coração disser que sim.
Volto a ouvir as mesmas canções. Sem dor e uma pausa para as lembranças. Porque a mala agora tem espaço para novas histórias, novas palavras, novos sonhos. Posso ir ou ficar. Indiferente esta coisa de lugar quando há disponibilidade para se refazer. Para continuar a ser feliz, sem condições. Porque há em mim a minha força, somada à tua, que me faz sentir ainda mais plena e confiante que nossos dias serão os melhores do mundo.
A nossa história não é faz de conta. É "faz acontecer"!

Débora Andrade


terça-feira, 20 de maio de 2014

Sonhando


Entre. Fiz café e bolo pra você. Pouca coisa mudou desde a última vez que esteve aqui. O bolo tá fofinho e o café, do jeito que você gosta. Também tem empadinha! Guardei a sua.
Coloquei aquele cd que você fez com nossa trilha sonora e a casa está florida de flores vivas, cultivadas uma a uma, com muita ternura.
Tem um livro que quero muito que leia. Já o separei e sei que vai te fazer suspirar. A cada linha que o lia, eu pensava nos seus suspiros e quase levei pra você mesmo sem terminar, só pra você sentir um pouco do que eu estava sentindo.
Vamos arriscar aqueles passos que começamos a dançar? Você vai acabar conseguindo. Um pra lá e outro pra cá. Fácil. É só me acompanhar.
Ah! Estive lendo seus textos, como sempre. E sabe o que descobri? Que você é excelente cronista, mas, pode começar a arriscar algumas rimas. Você nasceu crônica e pode florescer poesia. Qualquer coisa que você se arriscar, vai conseguir. Vamos fazer outro dueto? Vamos escrever enquanto tomamos o café, porque depois... a gente sempre sabe o que acontece.
Precisamos pegar a estrada outra vez. Gosto tanto de observar sua concentração e te ouvir cantando, semitonando e desafinando com graciosidade. Me dá vontade de te abraçar bem forte e sorrir pra você. De te abraçar, deixando tua boca encostar no meu ouvido e sentir seu cheiro quase perto da nuca. Colocar minha mão sobre seu peito, enquanto a sua parece tentar me proteger de mim mesma. quando toco seu coração, parece que o leio com a palma da minha mão.
Ouvi uma canção linda hoje. Um arranjo maravilhoso e um solo de tirar o fôlego. A letra é bem triste, mas, é linda, ainda assim. O nome é bem minha cara, você diria: Sonhando. Depois você tenta ouvir.
Estou quase terminando de arrumar os espaços e as bagunças por aqui. Planejar é mais fácil que executar. Sim. Sou eu dizendo isso. Pode rir. Às vezes encontro alguma dificuldade nas coisas. E assumo.
Desculpe o bocejar. Dormi pouco estes últimos dias. Mas não estou cansada, não. Não tem que se preocupar. Acho que sou acordada pelos sonhos, tão ricos em detalhes, que parecem ganhar vida. A minha vida.
Encontrei outras fotografias. Mais antigas que aquelas. Vamos ver amanhã. Porque agora eu preciso acordar.
A cor dar.

domingo, 18 de maio de 2014

Os Otimistas...


O otimista passa pelas tempestades com a certeza de que elas existem só pra trazer mais cor e sentido à vida. Carrega um bocado de cicatrizes pelo corpo, todas escondidas, discretamente, porque na queda de braço com as dificuldades, sempre quer mostrar mais força do que realmente tem. 
Os otimistas acreditam no amor. Sempre acham que as pedras que encontram pelo caminho é para construir um castelo no final. Insistem nas frases feitas de amor, acreditam nas flores, nas cartas, nos gestos. Dá chance para a paciência, aprendem com a espera e nunca passam ilesos. 
Por incoerência total do destino, sempre se metem em histórias difíceis e mesmo com mil tombos pelo caminho, persistem na estrada, encarando de peito aberto a todo e qualquer obstáculo. Bancam a pose de durões e sem reclamações, colocam um sorriso no rosto mesmo quando a vontade é chorar, desesperadamente. 
É... não saio ilesa. Carrego no peito uma dor astronômica de quem acreditou e não hesitou em acreditar. Porque a gente insiste em acreditar em amor. Passa a ver as coincidências da vida como sinais e transforma aquela teia, o emaranhado de sentidos e sentimentos, em rede para cercar e cuidar do amor. Acredita em dias mais bonitos... lê e relê a história escrita a quatro mãos e questiona o desfecho sem paz, sem dois, sem mais. Não se vive tudo isso sozinha. Foi partilha. E, deu flor. 
Mas para quem acredita em renascimento, sabe que amanhã é só mais um dia para viver. Para ser. Para transformar sonhos em realidade. E todas as cicatrizes, agora escancaradas, contam uma história que se foi. Não corta pela raiz, porque já deu flor. Mas sabe dar adeus.
Vem vindo alguém que receberá todo este amor que me dará tempo para ser amada. 
E a vida segue. A dor logo vai. E otimista que sempre fui,  sigo inventando novas cores. 







terça-feira, 13 de maio de 2014

E vira...

Rodava o mundo e ela rodopiava, em compasso com a vida, entre os papéis e as flores. Em meio sonhos e afetos, férteis. Sementes a semear, e "se amar" entre verdades pela metade. 
Era um mundo inteiro ali dentro. Era ela, feita de pedaços. Entre encontros e despedidas.  Perdida na certeza arrogante de frases feitas, se encontrando no milagre da vida, fruto do ventre, pulsando a força que a conduz. 
Rodopiava o mundo e ali, bem dela, rodavam os sonhos feito filme no teto, tão céu, tão seu. Resumindo o abundante sentir, capaz de girar o relógio, desfazendo o tempo, refazendo o vento, fabricando o alento que planta as palavras e escreve as flores, inventando novo amanhã. 
Era só mais uma roda, neste gira feito gigante, a embalar, feito presente, um futuro bordado de ternos abraços e reluzentes sorrisos. 
Ainda gira o mundo. E ela, ainda se vira.

Débora Andrade





domingo, 27 de abril de 2014

Ela vem pra ser mais...

Sempre falei de mim a vida toda. Tentava me esconder nos escritos, mas, era exatamente ali que eu me escancarava. Falava com facilidade, sem me preocupar com as consequências dos desabafos. Aprendi a ser só. A viver tudo dentro de mim, externando em palavras e deixando escapar gestos quando o sentir transbordava. Mas, era tudo bem fácil.
Hoje, quando falo de mim, eu falo dela. Ela faz, literalmente, parte de mim. Às vezes é um tanto assustador.  Porque existe algo de dependência nisso tudo. Ela depende de mim eu, que sempre achei que nunca dependeria de ninguém, passei a depender dela. Para sorrir, principalmente.
Os dias não têm sido fáceis. Do susto à tempestade, o tempo vai durando o que precisa para preparar o tempo das flores.  Nas noites, silencio em mim as frustrações, angústias e me desfaço da armadura, deixando a lágrima vir; assumindo toda fragilidade que a vida não tem me permitido. Tento alocar tudo isto distante do cordão umbilical... Mas, é bem em meio às minhas tentativas de forjar segurança que ela surge com toda ternura e graça, dando voltas e cambalhotas no meu ventre, apontando sinal de vida dentro de mim, acendendo toda vida lá fora. Ela aparece me trazendo o futuro muito mais bonito. Então, consigo enxergar o seu sorriso e a vejo trazendo uma nova canção, falando sobre o bom arranjo instrumental e o quanto os versos e rimas palpitam felicidade em seu coração. É bem nesta hora, no silêncio ensurdecedor da fuga, que ela surge como quem diz:  - Mamãe, estou aqui. Olhe para mim. Eu amo você.
Já tão cheia de demonstração de força, ela me provou que a vida está fora dos planos. Que sempre algo muito importante nascerá do amor, trazendo ainda mais amor. E hoje eu posso dizer que já tenho o melhor de mim.
“Ela vem pra ser mais... mais de tudo. Mais amor.”


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Traços e Linhas

Arrisco traços em cores quando penso em teu abraço. Mas, nada que eu pinte ou escreva, se assemelha ou se aproxima à grandeza do sentir que é entregue no silêncio envolto aos teus braços.
Guardo por aqui algumas palavras de conforto, bem vindas da serenidade do coração. A vida caprichou nas nossas tempestades. Mas, o que seria pequeno diante de nós, que nos fizemos tão imensos perante um ao outro? Não economizou em nenhuma emoção.
Mesmo que tímido, ainda percebo o brilho do teu olhar. Aos poucos, a vida vai se encaixando e nós, nos encaixando. Vamos tomando conta dos espaços e dos vazios, sem invasões drásticas. Não há como nos repelir quando traçamos nossas linhas. São paralelas, nada uniformes e, nem sempre, no mesmo ritmo ou tom. Mas, seguem lado a lado.
Fomos expostos, escancarados, com verdades inversas e reconstruídas distantes do que somos. Nada de nosso. Mas, bem perto de nós, quando o tempo para e a céu parece tão perto, no toque e na respiração, em um olhar de três segundos, nos confessamos e nos reconhecemos. E nos deparamos com um novo Sol neste mesmo caminho.
O que cabe no nosso tempo é calma, é paz, é amor. Porque nossos minutos ainda continuam valendo dias quando nossas mãos tomam conta de nós.
Não tema o tempo. Nem mesmo o meu. Não tema a minha pressa, o meu romantismo exacerbado e minha mania de dar cor às nuvens, às histórias. Já que eu não temo o teu silêncio, nem o teu compasso lento e menos ainda a tua história. Não tema a nossa história. Algo parece ter sido escrito por aí, feito lei, que nós saberemos sempre escrever e reescrever com paixão todos os começos, meios, fins e recomeços, independente das tempestades.

Me releio, quando leio você. Me reaprendo quando aprendo sobre nós. E volto a arriscar nossas linhas. 

Débora Andrade 


segunda-feira, 7 de abril de 2014

Pra Seguir

Eu ainda penso naquele primeiro dia. No desajeito das nossas palavras e a falta de lugar para nossos corpos. Eu te vi. Eu te enxerguei. Eu me deixei ser vista por você. E eu ainda pergunto o que a vida pretende para nós. Já que, nada parece definitivo quando se trata da nossa história.

Eu sinto falta dos nossos dias de uma hora. Das nossas horas que cabiam nossas vidas. A vida pulsa em mim com todo o teu jeito. E eu ainda vejo, nos teus olhos que me escapam, a minha falta de jeito. Estamos um no outro, ainda que não saibamos ou, fugimos disso.


A vida pela frente... é esta coisa de seguir. Como sempre fiz. E agora eu penso em segurar suas mãos... A desculpa é não te deixar desamparado... de cuidar e zelar por você... Mas, a verdade, é que perdi a vontade de seguir tão só... e bem no fundo, bate um medo de esquecer alguns passos pela estrada... os passos que você esteve ao lado...

Vou me reaprendendo, aprendendo você. 


terça-feira, 18 de março de 2014

Entre "mas", nós.

Entre os meus “mas”, não há espaço para tanto. Cabe uma vírgula só para respirar a pausa, enquanto penso na palavra que segue. Seguir. Eu gosto desta palavra e a uso com sabor de esperança, feito tempero de um prato cheio de força e fé.

Este céu que vimos juntos, ainda é o mesmo. Mas, eu enxergo as estrelas. Enquanto você se preocupa com as nuvens, eu as sopro para que você tenha a mesma sorte. Te desejo o brilho delas, assim como peço a divindade da luz sobre seus dias, para que você sempre lembre que a sombra não existe sem ela.

Entre “tantos” sempre há um bocado de nós. Espalhados pelo corpo, entranhados na alma. E insistimos nos caminhos distintos. Só para tirar a prova de que o destino não existe e, se existisse, nunca poderia mandar nos nossos caminhos.

Aprendi o ceticismo com os tombos da vida.  Mas, entre eles, sempre respeitei o amor. Este, soberano, impera entre os “mas” e os “tantos” e desmentem todas as minhas linhas de negação. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Gente que faz a gente acreditar no amor

Eles me falaram sobre o amor. Poetas embriagados de sonhos, precisaram apenas de versos e rimas para me convencer que é "fogo que arde sem se ver". E que "quando ele se revela, não se sabe revelar" e que "Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse."
Eu acreditei. Ainda sofro as consequências destes que se foram amando sem medidas, nem sempre correspondidos, desfrutando desta solidão, nem tão ruim ou tão grande. Já que  "a maior solidão é a do ser que não ama." 


Débora Andrade

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Outras Estações

Me abrace. Envolva-me no teu calor, enquanto, em meus poros, entranha teu cheiro.
De conta-gotas eu bebi teu gosto e por gosto, tatuei na alma teu olhar sem horizonte. Regressei, em passos e astros, voltando à primavera. Lá o teu beijo ainda era nosso, as tuas mãos, ainda confessavam todas as palavras mal ditas e não ditas de amor. Rolávamos entre nossas flores e brincávamos de alegria, aguardando o pôr do Sol.
O verão trouxe com o sol a distância dos corpos que eram templos, em tempos, de amor e laços. Perdemos “nós”. Então, perdi meus passos, e me vi astro só. Contemplei a fundo e por dentro, a solidão e a saudade. Aceitando as escolhas, mesmo percebendo que a vida parecia desejar um céu de muitas estrelas. Uma galáxia de três luas, bordando novo universo de amor.
Ainda existem outras estações. Outros astros. E outras galáxias.

Débora Andrade




domingo, 2 de fevereiro de 2014

Restaurando

Refiz nossos caminhos.Passei pelos nossos lugares, revendo ali nossos gestos, ouvindo nossas músicas e refazendo tom a tom, as palavras quase ditas entre olhares, presas às nossas mãos. Revivendo a certeza do afeto, do carinho, do amor.
Terminei o dia revendo, do alto, o pôr do sol. O céu, naquele mesmo tom avermelhado, como se estivesse sendo pintado de amor através dos nossos olhos. Mas, eu estava só. E no peito, o peso dos dias que se foram, misturados a acidez dos dias que virão. Sombrios, frios, distantes.
Refiz meus pontos. Restaurei a alma. Suspirei o vazio, abrindo as mãos, acenando adeus, à Deus. Como um pedido encarecido de atenção dos céus, para que meu olhar reflita do alto o avermelhado de amor. E que a face molhada das lágrimas, seja recriada com um sorriso sereno, de quem não desacredita que o amor é sinônimo de felicidade. Que nele haverá sempre compreensão, respeito, coragem. E que os limites impostos, não podem ser mais do que provação para nos afirmar que podemos mais. E que somos, realmente, o que desejamos ser.
Refiz aqui dentro, nossos finais. Foram tantos, sempre retaliados e refeitos, com reticências. A vida se encarregou de nos trazer as provas, as mostras, os sinais de que era para ser. Mas, eu me acostumei com o seu "mas". E me forcei a acreditar que eu não sabia de tudo, principalmente, que este mas era parte sua e que você nunca se dispôs a deixá-lo. Eu cultivei a sua fé, a sua  força, apontando seus traços de coragem. Enquanto você cultivava a mesmice das covardias diárias, sem repensar no amor como o maior combatedor do medo. Não é preciso coragem se há amor.
Ao pôr do sol, me despedi das reticências. Guardo aqui os lugares por onde passamos, os gestos, os fatos, os atos, o sentir. Há coragem para isso. Vou restabelecendo a fé. Recriando amor em mim.  Enquanto você ainda dança na corda bamba, sem saber o que é, de fato, ser você mesmo.

Débora Andrade

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Escolha Ser Feliz

Existem fases sombrias, quandro procuramos luz e não conseguimos alcançar nada além da nossa própria sombra. Mergulhamos na dor, assumimos o fundo do poço e não nos damos tempo e nem chance para perceber que nem tudo é caos.  Esquecemos que somos um misto de trevas e luz, de barulho e silêncio e que é em nós que encontramos todas as respostas e saídas.
Fases que a dor é tão grande, que sentimos físico, como se o peito fosse, de uma hora para outra, parar de pulsar o sangue e parece dar aquela preguiça de encher os pulmões de oxigênio. A vida, por si só, é um desafio diário. Na mesma bandeja, te entrega flores e espinhos, amores e dores, obstáculos e saídas. Ela testa sua inteligência emocional. Brinca com a nossa cara de bobo. Desafia nossos limites. Mas, sempre te oferece escolhas. E há algo tão perfeito nisso tudo, que te entrelaça, feito teia de aranha, que servirá como prisão ou, saída. Tudo depende, inteiramente, de nós.
Eu, hoje, escolhi ser feliz. Acordei e fiz as pazes comigo. Agradeci por todos os obstáculos e dores, porque sei que elas existem para me tornar melhor. Sei que os passos seguintes não serão fáceis. Nunca foram. Também sei que, destas muitas fases, lágrimas rolarão pela face, acompanhadas por suspiros de dor, saudade, decepção. Mas, eu tenho escolha. E escolho tudo de positivo que estas situações podem me trazer. Escolho agradecer pela luz, que precisa da escuridão para existir. E passo enxergar a vida através dos olhos de amor. E amor é transformador. É forte.
"Quem sete vezes cai, levanta oito". E que tenhamos disposição o suficiente para perseguir, insistir e viver o que consideramos felicidade. E que tenhamos sabedoria para aprender com a dor. Sem culpar o mundo e sem culpar-se de tudo.
É possível, sim. O que? Qualquer coisa. Desde que dentro de você exista uma chama que te motive a ser quem é. É a mesma chama que queima o medo de ser, de viver, de perder. Porque o amor, não tem espaço para perdas. Apenas para ganhos.
"Eu consigo". E consigo qualquer coisa que me despuser a tentar só porque acredito nisso, em mim e na força de amar que habita em meu coração.
Amanheceu um dia diferente. E eu estou, outra vez, sorrindo. Porque me decidi a ser feliz. Porque escolhi ser feliz.

Débora Andrade



sábado, 18 de janeiro de 2014

De Débora em 2014, para Débora em 2004.

Dona Débora, Dona Débora... Espero que encontre algum tempo para ler esta carta que, com certa ousadia, traz alguns daqueles conselhos que você acha que não precisa e nunca vai precisar.
Sei que sua vida anda bem corrida. Faculdade, dois empregos, namoro, família, a preocupação com a sua irmã que não sai debaixo da cama, e um Rio de Janeiro inteiro a te esperar de braços abertos. Aaahhh, menina. Teus tantos sonhos e teu pouquíssimo medo chegam a me arrepiar. Você se transformará, feito uma borboleta saindo do casulo, na consolidação de cada passo. Não precisa se preparar para a dor. Você vai aprender a lidar com ela de uma forma poética. Mas, esta alegria que tanto me reviva, vai crescer em proporção aos tombos. Você sempre encontrará saídas. Mas, não pense que será fácil. Existirão os dias de escuridão, só para você descobrir de onde vem a luz. Aliás, comece a lidar melhor com a solidão. Neste seu percurso, você entenderá que ela não é ruim assim.
Sinto em lhe informar, mas, você não vai mudar o mundo. Muito menos através do jornalismo (você via para o lado B da força. Vai engolir todo discurso socialista referente à comunicação e vai se apaixonar pela publicidade. Foda, né? Também custei a acreditar.) Nem no Rio e nem em Três Pontas. Portanto, tente ser mais leve. Aliás, tente dosar a importância das coisas. Trabalho é bom, mas, você não vai ficar rica só porque não tem preguiça de realizar. Não coloque trabalho em primeiro lugar. Não espere para entender que isso não vale a pena. Pela sua saúde, seja menos caxias. O trabalho vai continuar com sua importância na sua vida através de pessoas. É no trabalho que você encontrará as melhores pessoas da sua vida. Você sera afortunada com a presença, o afeto e o carinho de pessoas que te querem bem só por você ser você. Então, pode melhorar esta coisa de querer agradar o mundo, porque as pessoas que gostam de você, vão gostar pelo que você é e não pelo que elas esperam de você.
E o namoro? Você ajudará bastante se for menos exigente com você e com ele. Esta "dureza" aparente vai se transformar em um caminhão de afeto escancarado. Este cara que você escolheu gosta muito de você, é paciente, é amigo e vai te ensinar muito. E um dia, vai te dizer o quanto aprendeu com você também. Não alimente tantas expectativas. As coisas mudam. A vida toma rumos distintos. E, por mais que vocês vivam e revivam este amor, não fique lamentando o "para sempre" ou a "pela vida inteira". Se prepare para ter um grande amigo. Um grande companheiro. Você aprenderá que o amor se transforma. Mas, vai escrever muitos poemas tristes até aceitar que, sim, um romance acaba. Sim, vocês serão grandes amigos e isto terá grande valor para vocês dois.
Na sua vida existirão pessoas que, por algum motivo, você nunca vai esquecer. Mas, elas vão embora. E, mesmo se você insistir, esta coisa chata que você tem o costume de fazer que é não desistir, elas vão. E, talvez, elas vão porque não encontraram na sua vida o espaço que esperavam. É um direito delas, embora você não concorde. Portanto, pare de insistir. Não sofra tanto por isso.
A Dayane, sua irmã mais nova, não é sua filha. Tente encontrar outras formas de mostrar a ela o seu amor. Tantas cobranças não farão bem à relação de vocês. Aceite que ela não é você. Aceite que ela cresceu e não quer mais ser como você, como ela quis ser um dia. Isso não significa que ela não te admire mais. Menos ainda que não será alguém admirável.
Sabe esta coisa de seguir sempre seu coração? De não se adequar aos padrões impostos pela sociedade? De lutar pelos seus sonhos e ideais? De não aceitar tristeza? Um dia, isso pode cansar. Portanto, desde já, tente dosar tuas emoções. Débora... desculpe te dizer isso, mas... o mundo não é justo. E isso é outra coisa que você não vai mudar. Se você for menos radical, vai sofrer menos. E olha... nem todas as pessoas são carregadas de boas intenções, feito você. Ingenuidade tem limite. Comece a aprender isso agora, por favor. Deixar isso para os 30 é quase uma vergonha.
Trate dinheiro com mais responsabilidade. Ele pode te fazer falta no futuro.Tenha mais respeito por você, pela sua inteligência e capacidade de trabalho. Exija mais respeito pela sua história. Você não vai precisar fazer isso muito cedo, não. Porque, acredite, não vai ter este problema no Rio. Mas, já vai treinando, por favor. Não seja sempre tão "boazinha".
Cuidado com a sua falta de medo. Tente não pegar ônibus de madrugada e nem enfrentar bandidos, ok? Você pode morrer por tão pouco e sua mãe te mataria se você morresse.
Tente usar menos salto. E use o demaquilante, Débora, Isso pode te economizar horrores de cosméticos no futuro. Chegará um dia que você terá menos disposição para os sambas, portanto, enquanto puder, continue sambando até dar bolhas no pé.
Sei que você já deve estar com vontade de rasgar esta carta, raivosa por alguém ter a audácia de falar sobre sobre você, para você, como se conhecesse seu futuro. É que, eu conheço. Vivi seus dez anos futuros e, embora não me arrependa das idas e vindas, dos tombos, dos choros, das dores, das alegrias desmedidas, dos abaraços, beijos, faltas, saudades, primaveras, verões, invernos e outonos poéticos... Hoje, teria menos cicatrizes se você, Débora, tivesse tido alguns pequenos cuidados com seus passos. No mais, vivo aqui, em 2014, em um ano que, talvez, tenha a melhor de todas as notícias da sua vida e, por isso, sinta o medo que você nunca sentiu, a não ser quando fazia xixi na cama com medo de lagartixas. Você será feliz. Vai saber lidar com as mágoas, com as feridas e vai sempre tentar fazer mágica com a vida. Vai carregar para sempre este sorrisos nos olhos porque acha isso questão de honra. Mas, saberá lidar melhor com as expectativas e vai aceitar que o mundo, não é mesmo cor de rosa como você sempre pintou. Isso vai doer tanto. Mas, você vai superar.
Ahhh... esta caretice toda vai durar bastante tempo. Mas, Débora... você vai cometer erros que você nunca imaginou que cometeria. E você não vai ser pior por isso. E sabe esta coisa de você sempre pensar mais no outro do que em você? Será que dá para começar a mudar isso mais cedo? Aqui em 2014, você continua a achar a felicidade dos outros mais importante que a sua. E isso não pode ser justo.
Sobre amores.... Todos caminhos tornarão-se pontes... E, quem sabe dentro de pouco tempo,  a compreensão sobre esta fome de amor, chegue de uma nova forma?
E para finalizar.. agradeça todos os dias da sua vida e peça pela saúde dos seus pais. Cada dia que passar, você verá como é abençoada por tê-los em sua vida. Eles, realmente, são maravilhosos. Aliás, agradeça pela sua família. É seu melhor presente em 10, 20, 30 ou 100 anos.

Um abraço do futuro.

Débora Andrade, em 2014 para Débora Andrade em 2004.